uma
série de coisas,
um
bicho, uma pedra , uma semente,
o
ingênuo breu,
um
fiapo de luz,
e
a urgência,
triste,
tênue, quebradiça.
Dentro
– aqui
uma
pessoa
eu
folha
solta, no chão
de
dentro de uma árvore
(míssil
ao céu),
uma
árvore propensa, febril,
ultrapassada,
que
há pássaros
sem
um rumo natural.
Dentro
– no vento.
Dentro
– no ventre
de
vidro feito,
delicada
água
insubmissa.
Dentro,
submerso
nos teus olhos.
Dentro.
Dentro
ainda
e sempre
dentro
do
teu cheiro,
dentro
da máquina escrota.
Dentro
embora
de
Deus
e
pronto.
Dentro
do
nada,
do
sempre controverso.
Cada
vez mais
dentro
do
escuro.
Dentro
de
um grande rio submisso.
Dentro
do
amarelo imenso,
do
ilimitado, no pequeno frio.
Dentro
da
beleza estranha.
Dentro
sim,
da poesia
dos
desenhos que fiz
na
infância.
Ainda
naquele esboço.
Dentro
do
que era para ser,
dentro
do
que – ainda –
não
veio,
isso
que pode estar
nas
nuvens, prestes,
no
mais alto plúmbeo.
Dentro,
para
dentro,
mas
para caber, cada dia mais
(sumindo
aos poucos),
um
pedacinho a menos de nós,
nessa
dialética estranha:
cada
dia mais
um
pedacinho de tudo
incorporado
alhures.
Dentro
um
nome medo,
refugo,
mas
também refúgio
para
tropicados e vencidos,
aonde
o poema,
nosso
maior rival,
não
ganharia do vento,
do
mar em praia nua.
Dentro,
cada
vez mais
destemidamente
desprotegido
soterrado
cada
vez mais
encostado
em ti.
Até
brotar, até colhermos,
sem
medida, no sem sentido
mais
exato, justo,
como
deveriam ser as rosas particulares.
Mulher
e filha,
dentro
das
duas, três,
dentrodeus:
mãe.
Dentro
ainda
e sempre
no
ventre delas: eu.
André Di Bernardi nasceu em Minas Gerais, Belo Horizonte. Poeta e Jornalista, é autor dos livros A hora extrema (ed. autor), vencedor do prêmio Álvares de Azevedo da Academia Mineira de Letras (AML) em 2003; Água cor (col. Almanhach de Minas); Longes pertos pertos e algumas árvores (ed. autor); É quase noite no coração daquelas águas (Confraria do Vento) e O ar necessário (Jaguatirica). Participou das antologias Amar, Verbo Atemporal (100 poemas de amor) (Rocco) e Pelada poética (Scriptum). Tem poesias publicadas no Suplemento Literário de Minas Gerais e escreve resenhas literárias para o jornal Estado de Minas.