Ao leitor, bom proveito e boa despedida!
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Encontros com Manoel de Barros antes dele virar passarinho.
Por Douglas Diegues
Yo me lembro que el dia em que Manoel de Barros
saiu volando fuera del asa, do lugar onde estava ele já havia ido
embora forever. Agora, cada vez que lemos uma frase, um verso, uma
gag verbal dele, Manoel de Barros ressuscita. E posso entender mais
ou menos mejor aquilo que Lezama Lima escreveu: el poeta como ser
para la ressurección y non para la morte etc e tal.
§
Yo me lembro que primeiro conheci la poesia de
Manoel de Barros, después conoci al poeta. Thais, la hermosa
jornalista que morava en la city morena, me deu de presente um
ejemplar de "Arranjos Para Assobio" fotocopiado y
encadernado com arame. Thais me deu também um ejemplar del "Livro
de Pré-Coisas" que acabava de aparecer. Fiquei encantado com la
poesia que el poeta apresentaba, pues como ele próprio dizia, lo que
apresenta um poeta es la poesia que el poeta apresenta, non adianta
prefácios importantes, orelhas, cartas, etc e tal. Después, aquelas
mais de 30 páginas en la hermosa revista El Paseante, de Barcelona.
Entonces pensei com mios botones: Manoel de Barros era um daqueles
brujos del lenguaje, como Guimarães Rosa, Machado de Assis, Padre
Vieira. Sua palabra tinha frescor de chamas y orvalho. Entonces vim a
Campo Grande num inverno de 1989 solamente para conocer al poeta, que
escrevia coisas tipo: "Tudo que nossa civilización rejeita,
pisa y mija em cima, serve para la poesia".
§
Yo me lembro que la hermosa jornalista Thais
organizou el primeiro encuentro. Quando chego, el poeta Manoel de
Barros estava lá na porta de seu escritório com aquele sorriso de
kurumiri selvagem. Ficamos mais ou menos uma hora conversando sobre
poesia etc e tal. Me despedi antes del anoitecer. Y desapareci por
uns 2 años.
§
Yo me lembro que um dia escrevi uma carta a Manoel
de Barros pedindo textos para el número nada duma revista literária
que se chamava "teyu-í", lagartixa em guarani-paraguayo.
Ele respondeu dizendo que achava legal eu ter reaparecido, que el
nome de la revista literária era bom y que iba a colaborar numa boa.
Enton ficamos amigos.
§
Yo me lembro que visitar Manoel de Barros passou a
ser el mejor programa cultural possível em Campo Grande. Conversar
com el poeta na sala de sua casa era siempre como uma aula de
literatura selvagem. Cada conversa era um curso de como ver
linguagem, como ver poesia, como ver arte. Las aulas nunca foram
chatas. Eram aulas selvagem de onde voce nunca saía mais pobre. Ali
aprendi, entre otras cosas importantes para la poesia, que el delírio
tem de ser verdadeiro y que lo inverosímil non serve se non for
verosímil.
§
Yo me lembro que Manoel de Barros morava em Campo
Grande, mas era um anti-provinciano. Achava el provincianismo
cultural um pé no saco. Había vivido em Nueva York, onde fez cursos
de como ver cinema e como ver pintura. Vagabundeando pelas calles de
Nova York, Manoel de Barros
descobriu las obras de
Picasso, Klee, Dali, Braque, que acabavam de chegar para muestras em
las galerias de arte de la city. Ele lia Rimbaud nel original y era
um grande leitor de diccionarios antigos de la lengua portuguesa.
Tinha dois dicionários rarófilos antigos de la lengua portuguesa em
seu escritório de ser inútil: um do Moraes e um do Viterbo. Um dia
que fui visitar o poeta em sua hermosa casa de la Rua Piratininga.
Quando entrei vi que ele passava um pente numa página do Viterbo.
Perguntei se era alguma operación de magia simpatica. Ele respondeu
que estava apenas penteando las palabras.
§Yo me lembro que Manoel de Barros morou mais tempo no Rio de Janeiro do que em Cuiabá, Corumbá, Pantanal ou Campo Grande. Preferia o Leblon ao Pantanal. No Leblon quase nem había mosquitos. Nel Pantanal, había mais mosquitos que gente y árboles, e algunos desses mosquitos chegavam a derrubar las pessoas de la hamaca paraguaia.
§
Yo me lembro que ele me contou que um dia foi a um Dancing que ficava no centro do Rio e quando entrou ele viu Vinicius de Moraes sentado numa mesita com várias mulatas. Ele se aproximou e disse que era o poeta Manoel de Barros, que ele había publicado nel suplemento literário do Jornal do Brasil, que comandava à época. Vinicius de Moraes ficou feliz de saber que ele era o Manoel de Barros y lo convidou para sentar en la mesita com ele y las mulatas. Depois foram tomar canja de gallina en la Galeria Cruzeiro, perto de la Avenida Rio Branco, que vendia canja para borrachos hasta el amanecer. Assim ficaram amigos.
§
Yo me lembro que quando
el comunista Prestes se aliou a Getúlio Vargas, Manoel de Barros
sentou en la primeira sargeta que encontrou y chorou de decepção.
Depois, Manoel de Barros rompeu com o Partido Comunista Brasileiro e
nunca mais quis saber puerra ninguma de la política.
§
Yo me lembro que quando Manoel de Barros veio morar em Campo
Grande nos anos 60, teve de batallar la leche de las crianzas e ficou
sem escrever por 10 años. Quando morava no Rio sua poesia era mais
contaminada por lo urbano a la beira-mar. Quando voltou a la selva de
Campo Grande, sua poesia reverdeceu influenciada por brejos
sinfônicos, sapos que viravam meninos quando beijados por meninas,
la inocência vegetal, el solo germinativo primitivo, las imagens
vistas através de um olho de pássaro que usava para obter uma
visão, muy própria, de las coisas que humanizaba y los seres que
coisificaba. Pienso que Manoel de Barros inventou la literatura
infantil para adultos. La infância tem muita influência em seus
escritos. La infância de las percepciones primeiras. En la infância
estamos mais perto do chão, de las coisas pobres e sem importância
do chão. Para la crianza, todas las coisas são puras, ao ponto dela
lamber o chão, comer a terra, mijar em morrinhos de hormigas para
infantilizá-las.
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Yo me lembro que
segundo um filósofo árabe citado por Gilberto Freire, el adulto é
uma degeneração de la crianza.§
Yo me lembro que Manoel de Barros era uma espécie de poeta que non degenerou em adulto. Ele solamente teve infância; nunca saiu de la infância, de las origens, del tempo de las percepciones primeiras.
§
Yo me lembro que Manoel de Barros nunca fez paisagismo naturalista, ecológico, folclórico, etc e tal. El Pantanal que aparece em sua poesia non es el Pantanal real para inglês ver. El Pantanal de Manoel de Barros es um Pantanal personal e intransferibelle, visto por meio dum ojo de pájaro que el poeta usava para transver coisas, um Pantanal inventado com palabras, sintaxes perfeitas, imagenes onde cabiam el delirio de los loucos, los borrachos, los andarilhos y las crianzas, gags linguisticas em manoelês archaico, lenguaje propia non catequizada.
§
Yo me lembro que nel “Livro Sobre Nada” ele registrou que para tirar la solenidade de las frases, usaba bosta. Ele non era falso, non regulava micharía, y nunca teve nada que ver com aqueles poetas chatos que os alunos eram obligados a engolir na sala de aula.
§
Yo me lembro que quando
vi Manoel de Barros deitado no caixão, ele estava sorrindo como um
menino do mato numa boa.
§
Yo me lembro que a
pintora Martha Barros, hija del poeta, me disse que Manoel de Barros
non morreu pues había virado passarinho un poco antes del amanecer.
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"Tal
vez seja el último poema escrito por Manoel de Barros después de la
última visita que fiz a ele em meados de 2012 para propôr uma
entrevista. Para minha sorpresa el poeta topou. Eu quería mandar la
entrevista pro suplemento literario do Jornal do Brasil, mas o Jornal
do Brasil non existía maís. Quis mandar pro suplemento literario de
O Globo, mas la entrevista era muito longa para las miserables duas
páginas que o Globo gasta com literatura uma vez por semana. Enton
mandei pra revista Cult, que aceitou publicar. Para enriquecer o
material, pedí al poeta um inédito. Días depois, recibía en
la frontera selvagem um envelope pardo con el poema inédito
manuscrito. A Cult publicou a entrevista e o inédito em generoso
espaço de mais de sete páginas" -- D. D.
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"Auto retrato aos 80 foi escrito a pedido para uma revista ou jornal gigante que fiz aqui ja fronteira selvagem para celebrarmos los 80 años de Manoel de Barros. Esse texto foi re aproveitado después para livro onde aparece fragmentado em varios poemas mais curtos" -- D. D.
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"Manoel de Barros gostava de desenhar. Este boneco desenhado por ele foi enviado para a capa do número zero da revista de arte "teyu'i", que apareceu em 1995. Nossa intervención foi apenas pintar de amarelo el corazón invertido del profeta manoelês. El amarelo, para os mbyá guaraní, color de sol, cor de luz, es el color del infinito y de las cosas indestructibles" -- D. D.
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"Texto de Manoel de Barros escrito a pedido para "Kosmofonia Mbyá Guaraní", livro que organizei con Guillermo Sequera sobre as origens míticas del som (la música) y de las palabras entre los mbyá guaraní del trópico sul" -- D. D.
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"Em 1996 publicamos o segundo e último número da revista "teyu'i" dedicado na íntegra a Manoel de Barros e sua palabra encantatória. Para enriquecer o material, pedí textos a pessoas do Río de Janeiro, que curtiam a poesía de Manoel de Barros, como Antonio Houaiss, Enio Silveira, Etc e tal. Enio Silveira era editor de Manoel de Barros, e tinh a publicado "Gramática expositiva do Chão - poesia quase toda", pois até 1990, o único libro disponible de Manoel de Barros era "Arranjos para a Assobio", cuja capa tinha ilustração de Millor. Depois de 1997 é que a obra de Manoel de Barros começou a circular novamente pelas librerías brasileiras. Solamente una livraria en campo grande tinha uns exemplares de "Arranjos para Assobio". En las otras livrarias de la city morena, ninguém sequer sabia quem era Manoel de Barros" -- D.D.
Douglas Diegues nasceu no Rio de Janeiro em 1965. Passando grande parte da vida entre Brasil e Paraguai, é um dos criadores do "portunhol selvagem", mistura do português, espanhol e guarani: "que queimem o contrato vigente de Itaipú Bi-nacional e inventem um outro, mais justo em todos os sentidos, e se possível todo escrito em portunhol selvagem, la lengua mais hermoza de la triple frontera, onde cabem todas las lenguas del mundo, incluso las ameríndias...". Tal proposta relaciona-se, na verdade, com sua longa pesquisa em etnopoesia, concentrando-se na poética de povos indígenas do Brasil. É, junto com Manoel de Barros, autor do roteiro O poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina, para a TV Cultura, em 2004.