10 de abril de 2014

4 poemas de Mario Santiago Papasquiaro



COITO PAUTADO

Caldeira de diabos elétricos / minha pele à caça de teus fornos
A noite entrada em meus batimentos
a febre levanta pirâmides de agulhas capazes de aparecer
montanhas em meu marulhar
Teu corpo é meu solzão: meu porão negro / minha Rosa Maior                                                                                                      & meu pandeiro
o canil de éter & cadências que me tornam 1 bruto pavão     
chicoteador de camas
& leito de Grijalvas sexo na selva
& nave florida & rinoceronte com arpão de prata
Na rua ou em quartinhos
Enterrado em areia ou em teus beijos
Astros de esperma: martelos vivos cuspo empurro lanço adiante
à rua o lábio minguante em que te embales
Nem 1 dedo perderei / nem 1 mão de meus naipes
Teu sereno: teus terremotos são minha hóstia / são minha droga
o peixe de sangue que derrama com sua dança meus oceanos
Desde estas alvuras já não sei
se ferrei tua sela de montaria ou tuas patas fendidas
A cama / que herdaste de tuas tias ainda me tenta
A Maga de Oliveira & de Cortázar eu a encontro sob a válvula gotejante
de teus uivos brancos
Caldeira forjada na lira de sátiros suarentos
Paisagem que em seu olho / elege os pincéis & os agentes nos quais
                                                       se há de banhar o Action Painting
Caldeira de diabos elétricos
tua pele contra minha pele faz milagres


COITO PAUTADO

Caldera de diablos eléctricos / mi piel a la caza de tus hornos
Entrada la noche en mis latidos
la fiebre levanta pirámides de agujas capaces de aparecer
montañas en mi oleaje
Tu cuerpo es mi solazo : mi sótano negro / mi Rosa Mayor
                        & mi pandero
la perrera de éter & cadencias que me vuelve 1 bruto pípila
latigueador de camas
& lecho de Grijalvas sexo en selva
& nave florida & rinoceronte con arpón de plata
En la calle o en cuartitos
Enterrado en arena o en tus besos
Astros de esperma : martillos vivos escupo empujo lanzo al frente
a la calle o labio menguante en que te arrulles
Ni 1 dedo perderé / ni 1 mano de mis naipes
Tu rocío : tus terremotos son mi hostia / son mi droga
el pez de sangre que derrama con su danza a mis océanos
Desde estas alburas ya no sé
si herré tu silla de montar o tus pezuñas
La cama / que heredaste de tus tías aún me tienta
La Maga de Oliveira & de Cortázar la encuentro bajo el grifo goteante
de tus aullidos blancos
Caldera horneada en la lira de sátiros sudados
Paisaje que en su ojo / elije los pinceles & el activo en los que ha de
bañarse el Action Painting

Caldera de diablos eléctricos

tu piel contra mi piel hace milagros
  


HOUDINI’S SONG
  
I
 
Vivo minha desaparição
À hora dos relógios moles
Parido pelas contrações – sopro de lagarta desta espécie-fim de festa
Preso inclusive no guisado de grilos dos eus

II

O bosque vítreo corre para o rioformigueiros de videntes bebem melros
Montanhas rubras carregam o dia
Em pleno tu / absorto em nos
vou / cavando
não para trás
nem fazendo muuuu

III

O já amado ainda unge lume
As pombas não petiscam com o Cristo do perdão
O que mais dizer / fendido o machado
Fulgura minha fuga
espelho: o céu
Me desatei
Arrebento frontões
Não sou aposta
Odeio meu juiz
  

HOUDINI`S SONG

I

Vivo mi desaparición
A la hora de los relojes blandos
Madreado por las contracciones-soplo de oruga de esta especie-fin de fiesta
Atrapado incluso en la olla de grillos de los yos

II

El bosque vidriado corre hacia el río
hormigueros de videntes beben mirlos
Montañas rojas cargan al día
En pleno tú / absorto en nos
me voy / cavando
no hacia atrás
no haciendo muuus
  
III

Lo ya amado aún unge lumbre
Las palomas no meriendan con el Cristo del perdón
Qué más decir / hendida el hacha
Fulge mi fuga
espejo: el cielo
Me he desatado
Rompo frontones
No soy apuesta
Odio a mi juez


VIVI / AS MAROLAS FEITICEIRAS DA VERTIGEM

na flor vagina da flor
na guerra aberta que une o céu com seu inferno
no rude aviãozinho do hoje sou
no passo do calor / que é um baile novo
na terra de meus pares, meus irmãos
Na terra de minha terra a assombrada
no vento de pestanas
no vento de cobras
Incendiado por 1 lago de mulher
: cinza branca de enigma purinho :


HE VIVIDO / LAS MAREJADAS HECHIZAS DEL VÉRTIGO

en la flor panocha de la flor
en la guerra abierta que une al cielo con su infierno
en el rudo avioncito del hoy soy
en el paso del calor / que es baile nuevo
en la tierra de mis pares mis hermanos
En la tierra de mi tierra la asombrada
en el viento de pestañas
en el viento de culebras
Incendiado por 1 lago de mujer
: ceniza blanca de puritito enigma :


CREIO SOMENTE NA QUEDA DE ESTRELAS

Sobre as pontes que descubro
1 cemitério de vidros
:o ex-bendito chiqueiro:
ficou adormecido
o odor de tanto trator sangrante
/onde quebram a cintura os acampamentos ciganos /
Pegadas de mim
que pendem
& naquelas que digo: Não creio
entretanto nem nas chuvas de ouro velho nem de cabras
Nem na irrealidade deste rio
em que de santa gana me afogo
como se 1 punhal sem rumo
soltasse o sol de meus ecos


NO CREO MÁS QUE EN LA CAÍDA DE ESTRELLAS

Sobre los puentes que descubro
1 cementerio de vidrios
: el ex bendito chiquero :
Se ha quedado dormido
el olor de tanto tractor sangrante
/ donde quiebran la cintura los campamentos gitanos /
Huellas de mí
que cuelgan
& en las que digo : No creo
por lo pronto ni en las lluvias de oro añejo ni de cabras
Ni en la irrealidad de este río
en el que de santa gana me ahogo
como si 1 daga sin rumbo
jalara al sol de mis ecos



Mario Santiago Papasquiaro é o nome artístico do poeta mexicano José Alfredo Zendejas Pineda (1953-1998), que foi um dos fundadores, com Roberto Bolaño, do  Movimento Infrarrealista. Papasquiaro foi o modelo para o personagem Ulisses Lima, do livro “Os detetives selvagens”, de Bolaño.

Tradução: Luiz Roberto Guedes