[Imagem de Berna Reale]
MADEIRA
nem
cozido, nem cru
só
podre
cozinha
do tempo
resina
de despejo
tentativa
de construção
elaboração
e
transformação
uma
cura na leitura
uma
inflexão na escrita
indefinível
nem
melodia, nem harmonia
só
palavra mouca
as
pedras que estão abaixo dos pés
ficam
pesadas
em
contato com o lago(i)mundo
e
a canoa-corpo faz tremer
por
vezes
o
meu velho interior
faz
imaginar que a letra
de
uma palavra
de
algum livro
possa
sentir cócegas
um
dia
ao
ser
manuseada
palmilhar
FIRST OMM
catou
o botão que se soltou da blusa
trocou
o laço pelo nó
entrou
villas por horas seguidas
caiu
na política
na
magia
sem
arte avessa ao casaco
luxúria
é pouco
o
sexo se estende
muito
além da última nota
tocada
ao piano
bolls.com
bell
jar
emitidos
passos
e pereira
manuel
contou um pouco
ao
pé do ouvido
mas
deixou-o curioso
esperando
palavras
combinadas
na voz que roça
“a
teus pés”
a.c.
são ótimas iniciais
derramou
chá e quis
parar
com toda seqüência
ninguém
atende
disse
o atendente
a
idoneidade de uma empresa
não
está estampada
nos
dentes brancos conseguidos
pelo
photoshop do outdoor
comeu
hotdogs e xingou seu mundo
caráter
não se esvai
na
primeira camada de sal
mas
petróleo
o
botão balançava no bolso
do
casaco do homem
que
andava como quem ama
a
escuta deixou-o aturdido
o
volume máximo era o silêncio
nos
caminhos de neve
entre
as finas árvores
perdeu-se
o botão
que
há pouco
estava
tão próximo ao coração
descompassado
soltou-se
no
deserto de neve
aquele
minúsculo botão existe
ESCONDERIJO
fazer
um sirshasana nua
diante
de platéias de todos os cantos
uma
passarela
meu
sonho do trem fantasma
meu
te-ato oficina
eu
estive lá
fez-me
rir e temer
andar
no
estremecimento do suporte pouco sólido
nudez
pública
meninos
gays que temiam o circo
escolher
o horror
sim
os
filme de terror
gosto
até hoje
afinal
assisti
o anticristo
até
o final
(sem
fechar os olhos ou quase)
e
voltei andando para casa
aterrorizada
eletrizadoida
como
a personagem-outro
bruxas
devires
animais
capturou-me
de tal modo
a
cápsula oswald
o
rey
chorar
foi
escrever para começar
sem
saber se quem apareceu
foi
tristeza
beleza
ou
simplesmente
exaustão
da
condição de tesista
e
semi-mãe
semi-mulher
semi-dormindo
semi-acordada
tanto
quanto durmo
tal
qual acordo
viva
no mundo do texto
à
deriva do resto do mundo
a
vida é passageira
gozo
não foi
será
sempre
a
ser
VÓRTICE OU COSMOHÉLIO
(com André Demarchi)
o
alcance da espessura
rasteja
contraventa-se
cosmopedra
diluída
em sal
de
vida
vórtice
amargo
e
torto
deslumbra-se
hélio
e seus rastejos
hão
de voltar
prensados
e
verdes
in
fritura
cosmokaya
GERÚNDIO
que
amor
(movimento)
será
este
do
instante
pós
poema
pós
nova implosão?
respiro
o texto sorrindo
e
cercando de mais amor
o
meu dia
(dias
solitários)
apenas
com ela
a
incontornável
demolidora
mor
até
por que se faz de
amor
e suor
Suiá Omim
nasceu no Rio de Janeiro (RJ). É poeta, antropóloga e professora da
Universidade Federal do Tocantins. Atualmente, prepara a edição de seu primeiro
livro de poemas.