10 de fevereiro de 2015

O corpo e o poema ou a força da gravidade da imanência contra o buraco negro do tempo, a propósito do livro ' Corpo de festim' de Alexandre Guarnieri



Por Marcelo Ariel

Corpo de festim parece ser um livro escrito no lugar da Terra, escrevemos no lugar de , as vozes possuem sua cosmicidade, são emanações da explosão da energia do ser no espaço e as palavras escritas são os estilhaços, Alexandre Guarnieri tem plena consciência desta realidade pré-gravada que tentamos apagar da nossa fita mental, e é em uma imersão nos contornos magnéticos dessa realidade por dentro e em torno da nossa realidade , que ele escreve, em alguns momentos estes livro parece ter sido escrito por um astronauta tupy,  unindo em seus pólos e pulsações uma defesa da voz imanente da natureza que emana do corpo e de uma energia da recusa do esquadrinhamento do mundo, há uma cartografia da cosmologia interna do corpo fora de sua imagem mental eurocêntrica, estamos no território de um paradoxal minimalismo barroco, não de um jorro, mas de uma espécie de action writing que é ao mesmo tempo uma conversa com um logus desconstructor do discurso poético neutro que reina em nossa época, é uma felicidade ler este livro que evoca os signos dimensionais da revolta como irradiações dos corpos exteriores ( Terra) e defesa da sobrenatural materialidade do corpo, defesa que se converte em uma defesa da poesia, em uma atualização feroz da defesa da poesia de Shelley onde o  poema está no lugar do corpo e não no lugar do Estado. O livro desenha uma biocartografia a partir de  imersões nos raios interiores de um corpo vivo, sendo que o seu corpo, meu caro leitor-leitora é transfigurado em Cavalo-do-poema.

A seção ‘ Vigiar e Punir ‘ evoca a ponte que foi construída pelo Marquês de Sade em Kafka dentro da chave  irônica de Peter Sloterdjik, ponte que foi  parcialmente dinamitada pela nossa parte que vê na máquina uma piscina para descansar do ontológico.

Corpo de festim é um livro que luta com o silêncio e não com as palavras, que  refaz através de seu discurso a via física da aniquilação do espaço pela energia do tempo, nela desaparece o poema, desaparece o corpo, desaparecemos.

Nota: O livro será lançado em breve pela Editora Confraria do Vento