Texto
em que o poeta quer deitar Maximin¹ num diwan e cantá-lo feito um
místico árabe, quando então se lembra da ascendência do divino
rapaz.
Filho
de berberes e alemães
graças
à fuzarca abençoada
de
corpos após a Queda
do
Muro, me disseste
que
foste o mais perfeito
bebê
da maternidade
de
tua mãe, a generosa.
Eu
creio e sou devoto.
Não
sei se necessário
um
começo perfeito
para
teu óbvio sucesso,
agora,
no pleito.
Seria
prudente comparar-te,
seguindo
a antiga arte
dos
meus colegas árabes,
tal
Muhammad
al-Nawaji
ou
meu caro Abunuwasi,
e
afirmar de gazela
as
tuas pernas
tão
firmes, estáveis?
Seria
cometer uma gafe
etnográfica,
se entoasse
em
cantares dos cantares,
tal
um árabe, a tua púbere
belezura
berbere?
Tudo
o que sei
é
que, se não vens,
sou
um mero magrelo
a
atravessar feito camelo
o
Magrebe.
Maximin,
ademais,
nos
ademanes
da
minha nomenclatura
mais
que científica
dos
corpos do teu gênero,
dividindo
rapazes
entre
touros, leões e cavalos,
sempre
te considero espécime
ideal
das pujanças taurinas,
teu
torso e teus ombros
que
seriam edredão fácil
de
tão largo
ainda
que não mui macio,
sobre
todo o meu corpo
raquítico
e geriátrico,
como
esses teus membros
de
tronco de carvalho
que
frequente
me
deixam em estado
de
Salix
babylonica.
Tua
inteligência de cão
de
rua, a forma das mãos
com
que nos manipulas
fácil
pela lente do desejo
que
distorce tudo, fazem-te
mais
perigoso que o coice
de
cavalo, a garra do leão
e
todos os chifres de touro,
como
este que carregas
nas
tuas calças
largas
de skatista.
És
um tanto sádico.
Maximin,
queria beber
apenas
uma vez mais
teu
suor e saliva e sêmen
de
berbere
escorrendo
de tua pele
de
bebê.
Quando?
Onde?
Ainda
não te cansaste
daquela
caverna escura?
Escalemos
o pico nevado.
Vamos
comer sushi
diante
de um Fuji
falsificado
de Hokusai
nos
restaurantes
dos
imigrantes
dessa
tua cidade.
Sou
meteco,
não
grego,
são
esparsos
os
meus privilégios
e
minhas bulbouretrais
já
se cansam do estado,
como
em Kanagawa,
das
grandes ondas.
Devo
gritar dos telhados
in
a barbaric yawp
teu
verdadeiro nome?
Confesso
que ainda
não
ouso a entrega
ao
mundo de tua alcunha
oficial
de batismo,
apenas
este, Maximin,
pois
temo tua concubina,
essa
ninfeta com sangue
de
valquíria, os genes
de
nibelungos, o gênio
de
Wagner.
¹Maximilian Kronberger, conhecido familiarmente como Maximin (15 de Abril de 1888 - 16 de abril de 1904) foi um jovem poeta alemão e uma figura importante no círculo literário do famoso editor e poeta Stefan George (o chamado George-Kreis). Morreu subitamente de meningite, um dia após o seu aniversário de 16 anos. Este fato leva George a exalçá-lo à condição divina, além de torná-lo nova inspiração para sua obra. O culto a Maximin passa a ser um elemento integrante das práticas de seu círculo literário. 33 poemas de Maximin foram publicados postumamente no livro Maximin: Ein Gedenkbuch, que permanece hoje como uma obra rara, sem tradução no Brasil.
¹Maximilian Kronberger, conhecido familiarmente como Maximin (15 de Abril de 1888 - 16 de abril de 1904) foi um jovem poeta alemão e uma figura importante no círculo literário do famoso editor e poeta Stefan George (o chamado George-Kreis). Morreu subitamente de meningite, um dia após o seu aniversário de 16 anos. Este fato leva George a exalçá-lo à condição divina, além de torná-lo nova inspiração para sua obra. O culto a Maximin passa a ser um elemento integrante das práticas de seu círculo literário. 33 poemas de Maximin foram publicados postumamente no livro Maximin: Ein Gedenkbuch, que permanece hoje como uma obra rara, sem tradução no Brasil.