Por Marcelo Ariel
Costumo dizer que nos dias de hoje as flores estão não apenas brotando, mas desabrochando debaixo da terra, felizmente existem olhares investigativos e por sorte também afetuosos como o da poeta Ana Cristina Joaquim que me apresentou o trabalho da pintora, desenhista e ilustradora Isadora Reimão que serviu de capa para a ótima antologia Anamorfoses que a poeta organizou. Falemos do trabalho de Isadora, uma delicadeza firme no traçado de seus desenhos certamente nos conduz ao território do diáfano e etéreo, Isadora é como uma aluna de Bosch que optou pela sutil névoa do sonho não como um elemento de fugacidade ou de dispersão como é comum nos artistas de agora, mas como uma forma de inserir dentro do elemento do maravilhoso tão caro para gênios como Shakespeare e Myazaki, uma poeticidade da delicadeza e um humor como o praticado por Lewis Carroll, que parece ser outro dos mestres de Isadora. Uma característica de suas aquarelas e ilustrações é a capacidade de dialogar com uma tradição da ilustração que para mim, a liga aos pais da pintura, os antigos estruscos e egípcios e não digo isso apenas por causa dos motivos que ela escolhe, mas pelo léxico visual e uso das cores e perspectivas que ela utiliza. Estou aqui neste pequeno artigo, escrito confesso no calor e na emoção de uma descoberta, tentando mapear as fontes da artista e o que é mais importante, vê-la inserida num contexto bem maior do que o do mercado, não tenho dúvidas que Isadora poderá se tornar futuramente uma artista muito solicitada pelo mercado, vejo Isadora dentro do contexto da história do imaginário da arte, dentro da imensa floresta de linguagens simbólico-visuais que ela apesar de jovem, consegue manusear tão bem, é como se uma criança houvesse nascido na cidade falando na língua de uma tribo de índios quase extinta, o que talvez os artistas sejam, mas é este quase que nos salva a todos.
Página da artista: http://www.isadorareimao.com/
