Imagem de José Bechara
perdido dos
descompassos eu
perfaço seu
repasto nesta tarde azul. descubro outros espaços nas
costas das
mãos densas, nas
partes debaixo dos restos, nos poros curtos, nos
tempos sucessivos. busco a
onírica densidade que negamos ao descobrirmos o tempo deitados e
proliferados nas
divisas circulares de nós
cegos. decomponho o que
descubro dançando um sorriso imenso na
sala de memórias. percebo seu
senso aos
pedaços, a
sílaba cor, a ausência nesta ânsia, a distância solta, seus ditames e
o precipício. na
voz dos passos lavados no
cais, nossos nomes nas
espumas, seu
sorriso sóbrio, a torta marcha vazia transcrita nos
seus sinais. nos
desatinos e
sarcasmos, no
espaço sem
sentinelas, nas
fomes em
contrastes, toco o contragosto exposto de
carne, o
rosto desfeito em
paradigma. sopro seu semblante na surdina sobre o
sol e sob
as cores da
tarde, sem
as mãos imensas. somo os
sabores que
só às espumas pertenciam. sílaba à sílaba componho seu
silêncio e
junto ao
espesso esse sorriso. corto o covarde anseio, o
confrade intento e com
o pó componho a montanha. cifro no
som os destinos que se
escrevem nos
muros compostos, os desalinhos de linha alinhavando a
barra dos
que são, suas camisas sem
remendos. toco o toque predileto do
prestígio dos
pássaros de
passos apressados no passado. saboreio o
sintoma surdo de nossos velhos riscos no ar
compartilhado de
confisco. sobra o jeito insólito de
sensação onde o não
aconselha o
mais e o
que se quis da sombra é esse recorte implosivo de impulso do que
esqueço, trânsito de delírios. risco a
unha leve que
contorna seu
rosto linha a linha na saliva seca. sinto sua saliva suave sem
sabor, seu
senso cedo, seu sorriso sem cisco, seu sétimo susto, seu
sentimento sóbrio sobre o
assoalho, sob
as sonoras sirenes de sábado. sei do
sentido no
som da sílaba soante das
suas sumárias sínteses estendidas às
horas do
sim. nos despertados desapertados nós, atuo atores de farsa. refaço a
refeição reafeiçoando-me ao feito. sobrevivente o
ermo termo resultado, o impreciso chão se
desdobra. sua
sombra carrega do amputado as multidões implosivas impróprias para o
tato. reformo a forma escalavrada lavrando na palavra, pá a
pá, o precipício e ocupo as retinas da forma que se
firma sitiada. caminho a
contrária sorte de sentir partes como dobres e
cubro de
calma a
boca, sentindo o sim
nas unhas. seu
pouco faz
os olhos nas
retinas e,
o espelho, rostos de cartografia. na espuma tromba seu
ombro, a
tatuagem e
a cor e
o vermelho eterniza na camisa, nas narinas, entre cacos e cigarros. amarradas nas
espumas, nossas sílabas se
misturam desfeitas no nome do fim
feito infortúnio, desgarrada contra o espelho. nos misturados nós de
cores comovidas, sigo os
possíveis atos na rua. eles causam o céu
no tato que
toca os laços atrás dos
fios na cidade e a
velocidade de
nossos olhos na multidão, soltas saias. planando em
outra sinfonia, o novo espaço dissipado sofre desconstrução e espasmo do pedaço que sobra na vertigem oblíqua do
baile. na
varanda azul, os tempos boiam na
frase, os
pés e as
mãos como não
pudéssemos nos
nossos soltos sonhos de
silêncio. construo o silêncio, aos poucos, partindo-o em
seis pedaços. com as
palmas das
mãos os oferto e os
pedaços se
costuram. legião de formas dissipadas nas
tardes repartidas. neles minhas manhãs como recados sussurrados nas sombras da noite, nos holofotes. costuro os
seis pedaços que
lhe oferto, perdido em um
nó que não
se fia, embolado o carretel de transparências. aperto o
nó sem ousadia, trocando a
forma sem
medida pelo resto de
voz, outro sussurro das palavras. como cores que se
comem, vigio as vírgulas nos formando páreas sem
disritmias em
concessórias densidades que se
cobrem. ando pelos caminhos que criamos sobre os
sons pisando atolado a lama dos carinhos. sobra o
claro lado onde as
flores do
tempo são
as chagas da
vaia, as
caras mordidas pelos dentes canibais guardados no sétimo pedaço que
não lhe oferto, quebrando-o na
mão fechada com
meus dedos contrafeitos. do nó
sem ousadia saem palavras que
passeiam sem
vontade e
morrem cheias de espuma enquanto o
silêncio construído ganha corpo e resto. na possibilidade de hoje formada pelo acaso do
espaço arranjado do entre durante o
eterno voar do desejado, os pedaços. é de
sílaba a
sua pele, o
dente, a
mão, a curva. se eu
partisse a
voz e enchesse esse espaço com mais do que
pedaços, recheasse com olhos e desalentos, nos nós
mistificados, sobrariam a sombra, os traços das mãos, os trilhos perdidos entre cores estendidas, abertas como aquilo que
se parte em
sombras desdobradas. dispostos sobre as cores refletidas, espalho tais pedaços pela casa, nos livros. distribuo cheiros entre as
partes e
busco o
resto na
pele, esta cicatriz antiga. tento estender o que
sei na janela para sentir a cor
repartida e
espalho-a pelo espaço amontoando-a no alojamento de mim, meus cotovelos. anovelo-os aos
joelhos mordidos, às canelas, ao corpo que nos
desvenda tudo em poro banhado de
saliva. nos
talheres barulhentos do almoço, nossas salivas nos alimentando enquanto nos
engolimos, os
joelhos vermelhos e as
mãos cansadas. deitados sobre nós, em partes soltas, nossas unhas, a
vontade da
cor camuflada. acho o esconderijo de seu
corpo exposto por mania, sem remorsos na alvorada. é de
uma exaustão pânica com olhos carregados. é
tão antigo quanto a letra que separa tudo, até
as sílabas dos
nomes. separados seguimos as
frases que
não mais acreditamos, que nunca nos pertencem, mas que
repetimos. há
força constante impelindo ao
movimento, como as coisas do mundo surgem a
outros olhos na chuva de vozes, somadas aos
pedaços de
coisas guardadas, aos nossos olhos na
multidão vermelha criando lembranças, juntando as
coisas do
costume. sobra a pele e lavo a alma em três matérias, esperando, no canto do olho, o brilho que nos
refaça sepultando longe o
que sobrou do
limite. vislumbro cais desligados do para trás e
tudo se mistura com você, alheia do
mundo, das
cores, da
cidade, sem
o depositório insólito que escapa da procura pouca, escambo dos escombros sobre o
mar afortunado.
Danilo Barcelos nasceu em Belo Horizonte, em 1981. Atualmente é poeta e
contista. Publicou seu primeiro livro, de poemas, Barulho Branco, em 2006. Em 2010, publicou Qu4rto desamp4ro,
de contos, em plataforma digital. Seu último livro, Tear de ondas, de poemas, saiu
pelo projeto editorial Aves de Água, em 2012, também em plataforma digital.
Organizou um livro sobre teatro cômico, intitulado O sorriso de persona, publicado
pela Edufes em 2014. Além da atividade de escritor, Danilo Barcelos é professor
de teoria da literatura e literaturas em língua portuguesa e doutorando em Letras pela
Universidade Federal do Espírito Santo. Desenvolve pesquisa na área dos Estudos
Literários, com ênfase na importância da poesia como forma de saber.
Atualmente, Danilo Barcelos reside em Belo Horizonte e escreve regularmente em
seu blog Desde que o samba é
samba. O endereço do blog é desdequeosambaesamba.blogspot.com.br.