Andy Kehoe - Our Wondrous Journey - 2014 |
wahrol tv
Dial M for Model
Pense na tristeza das câmeras. Pense na Warhol TV.
Pense em um monstruoso zapping
de televisões que estivessem
Sempre “on air”. Pense em um anjo vindo de Pittsburgh;
Um anjo de antenas & não de auréolas
Um anjo tão comum quanto o nosso tempo
Pense nos olhos gordurosos do POP,
este anjo trôpego
A pisar por escadas de emergência
Pense em tigres encurralados
Pense até em ancorar um navio no espaço
Warhol queria ser enterrado de jeans
Pense em Warhol impregnado de jeans, sepultado
como um mágico que dissipa seus truques
antes de desperdiçá-los
Pense na Warhol TV. Pense no dia em que a maquiagem falhar.
remédio
veneno
Todo amor também é bélico, requer
navalhas & pequenos barcos
selvagens
de papel, requer que se improvise
escultura de sua poeira, que se faça
diamante
de sua ruína
Todo amor que é bélico, manancial
do Presente,
semente de uma tatuagem mental, o amor
faz
sangrar os pássaros
Todo amor coleciona abismos
como quem recolhe precipícios, como
quem
acolhe a aridez de sua chuva;
sem os dentes não há amor possível;
suas estruturas descem para vida
Todo amor é bélico, asa que
paira no azar,
seu corcel é aflito, wild horses,
de sua cloaca humana jorra ouro,
de seus objetos nascem
pequenos deuses efêmeros
O amor não deixa sobreviventes
goma arábica
Cabelos de relâmpago
cobrem o véu
Dos óculos
Relâmpagos nos
cabelos reúnem a ferrugem carmesim
Do sol
O céu estrelado é
preso por uma cola de goma arábica
§
Pessoas se misturam às paisagens para navegar
nas pálpebras de [óculos
sem molduras
A cidade guarda seus
acervos nos incêndios da memória
– nua como uma terra – de fio a pavio
§
Cabelos em relampejo cobrem as cortinas
da lua,
árida pantera,
estéril lua de
cabelos infecundos
a afundar por treva adentro
§
Anjos do éter trazem suas almas
incendiadas pelos outdoors,
as entranhas da noite
são presas por
uma cola de goma arábica
§
São estes supermercados
de corações usados
Doces
mercados descartáveis
de corações
descartados
Os supermercados do
amor estão sempre lotados
carnaval 2
Era
este um mundo sem calmantes & sem troféus
Eram estas esquinas inevitáveis
banalidades acinzentadas de pólvoras acidentadas
abarrotadas de tédio gris
§
Um
filme queria rasgar a tela
P
As meninas & suas pélvis eram compostas por
[redes de apanhar borboletas
Cigarros também tombavam como folhas mortas
§
Ninfa do cimento desfila sobre o
vórtice da vertigem
Bebe seu Dionísio engarrafado para depois
deixar raiar
seu
eclipse na mais fina flor
No mercúrio cromo do mar uma mulher se
veste de avesso
com
seu parangolé de navalhas
Carrega sua capa composta pelo
jasmim da palavra jamais
§
É preciso tomar muito
cuidado com o que brilha
As paisagens também sonham
assim como as mãos também raciocinam
com suas pequenas raízes de carne
amadurecendo & avançando na árvore
do cérebro
§
Os dedos lúcidos percorrem outros
azuis
com uma vertigem do tamanho de um mar
ou de uma cortina de
fumaça
Ainda é ampla a cratera no peito
Os
olhos possuem o mesmo abismo de lâminas
O tempo, este rei pândego iluminado
por estrelas
do éter,
um
rei endomingado de chumbo derretido,
O tempo, lapso & colapso a compor
a chuva imóvel deste nosso tempo
§
Ela me fez acreditar no infinito da linguagem
Augusto Guimaraens é poeta e romancista. Já lançou: Poemas para se ler ao meio-dia (2006, 7Letras); Os tigres cravaram as garras no horizonte (2010, Circuito) e Fui à Bulgária procurar por Campos de Carvalho (7Letras). Atualmente prepara o livro Máquina de fazer mar. Para mais informações, ver: www.augustoazul.blogspot.com