Por Marcelo Ariel
Corpo
de festim parece ser um livro escrito no lugar da Terra, escrevemos no
lugar de , as vozes possuem sua cosmicidade, são emanações da explosão da
energia do ser no espaço e as palavras escritas são os estilhaços, Alexandre
Guarnieri tem plena consciência desta realidade pré-gravada que tentamos apagar
da nossa fita mental, e é em uma imersão nos contornos magnéticos dessa
realidade por dentro e em torno da nossa realidade , que ele escreve, em alguns
momentos estes livro parece ter sido escrito por um astronauta tupy, unindo em seus pólos e pulsações uma defesa
da voz imanente da natureza que emana do corpo e de uma energia da recusa do
esquadrinhamento do mundo, há uma cartografia da cosmologia interna do corpo
fora de sua imagem mental eurocêntrica, estamos no território de um paradoxal
minimalismo barroco, não de um jorro, mas de uma espécie de action writing que é ao mesmo tempo uma
conversa com um logus desconstructor
do discurso poético neutro que reina em nossa época, é uma felicidade ler este
livro que evoca os signos dimensionais da revolta como irradiações dos corpos
exteriores ( Terra) e defesa da sobrenatural materialidade do corpo, defesa que
se converte em uma defesa da poesia, em uma atualização feroz da defesa da
poesia de Shelley onde o poema está no
lugar do corpo e não no lugar do Estado. O livro desenha uma biocartografia a
partir de imersões nos raios interiores
de um corpo vivo, sendo que o seu corpo, meu caro leitor-leitora é
transfigurado em Cavalo-do-poema.
A seção ‘ Vigiar e Punir ‘ evoca a ponte que foi
construída pelo Marquês de Sade em Kafka dentro da chave irônica de Peter Sloterdjik, ponte que foi parcialmente dinamitada pela nossa parte que
vê na máquina uma piscina para descansar do ontológico.
Corpo
de festim é um livro que luta com o silêncio e não com as
palavras, que refaz através de seu
discurso a via física da aniquilação do espaço pela energia do tempo, nela
desaparece o poema, desaparece o corpo, desaparecemos.
Nota: O livro será lançado em breve pela Editora Confraria do Vento