26 de março de 2015

Trecho de “Espécie”, peça de Sebastián Huber (em tradução de Rafaela Scardino)



[Imagem de Marcia de Moraes]


Juan diz que Iara diz que Anita diz que Meli diz que Federico diz que Nuria diz que Salo diz que Bárbara diz que isto é a instalação de um sistema, e que por enquanto eu fale com vocês. Assim, vou contar que...

A perda da narrativa é a perda da nossa capacidade de nos situarmos historicamente, não?

Como cachorros esquizofrênicos vimos o sentido da temporalidade colapsar.

Os sintomas da nossa perda recente fogem e fogem.

É uma tentativa desesperada e histérica de recuperar algo através da ressurreição de múmias.

Ainda devemos chegar a um acordo com o nosso próprio empobrecimento.

Nosso próprio empobrecimento.

Justapomos negativas à habilidade de prover o que falta à imagem. Nos negamos à indignidade de falar pelos outros, mas uma colagem com seus pedaços nos tenta.

Cada repetição é diferente.

Há um contexto, mas é só isso. Satura. Constrange.

Não há nada arquimédico quando a origem atua e se move.

Um elemento o suja e, por sua vez, lhe injeta sangue.

Um enxerto que difunde para atrás e transforma, assim, o lugar de sua separação.

A perda e o achado geram uma infinidade que é absolutamente inimitável.

Não há porque entender o infinito comentário, que a cada instante se auto-anula.

O truque consiste em não suprimir a alteridade de cada um na composição temporal.

Mas eu não sei como se faz.

Minimalismo. Depois, apenas talvez, haja um único perigo.

Dois fatos rimam, e antes, separados, não eram nada.

Jogar com as linguagens é examinar as formas com que a mente funciona.

Hoje talvez tenhamos sorte com esse pastiche.

Combinam e modificam e somam uma conexão com o extenso plenum da experiência.

Por alguns momentos, as combinações organizam flashes em que algumas imagens se corporizam, outras não.

Cada actema é cinzelado por um ator/personagem; polido. De alguma maneira.

Quer saber com o que me pareço?

Outro fará algo diferente, mas cinzelado. E o polirá. De uma outra maneira.

Na sua crise, esse algo é imprescindível, o outro é menor.

A informação, congelada em uma imagem; e uma enorme quantidade de elementos faltantes.

Uma imagem dentro de uma estrutura que consegue não querer dizer nada.

Diz o seu sentido ao debater-se com o racional, com esse mágico poder que lhe confere o fato de não ter significado.

O que se está contando?

A primeira fase, de instalação, se sustém até que a paulatina retroalimentação gera vida no sistema, que começa, assim, a pensar por si mesmo.

O que me importa? O motor está onde sucumbem as explicações. Eu me importo com o como; outros, não sei.

Os elementos têm pelo menos duas funções, a informação cobre a codificação, esconde o procedimento.

Contratos internos de um mundo confabulados, sem fábula.

Um mundo que não é linear, onde muitas causas escondem efeitos desordenados.

Uma segunda etapa, de modulação, uma série de formas de variar que regem tanto quanto possibilitam, limitando tanto quanto permitindo; sinapses, puro estalo.

[...]


Dice Juan que dice Iara que dice Anita que dice Meli que dice Federico que dice Nuria que dice Salo que dice Bárbara que eso es la instalación de un sistema, y que mientras tanto yo les hable. Mientras lo instalan y vemos qué pasa. Así que les voy a contar que...

La pérdida de la narrativa es equivalente a la pérdida de nuestra capacidad de situarnos históricamente, ¿no?

Como perros esquizofrénicos vimos colapsar el sentido de la temporalidad.

Los síntomas de nuestra pérdida reciente huyen y huyen.

Es un intento desesperado e histérico por recuperar algo a través de la resurrección de momias.

Todavía debemos llegar a un acuerdo con nuestro propio empobrecimiento.

Nuestro propio empobrecimiento.

Yuxtaponemos negativas a la destreza de suministrar lo que a la imagen le falta. Nos negamos a la indignidad de hablar por otros, pero un collage con sus pedazos nos tienta. Cada repetición difiere.

Hay un contexto, pero es sólo eso. Satura. Constriñe.

No hay nada arquimédico cuando el origen actúa y se mueve.

Un elemento lo ensucia y, a su vez, le inyecta sangre.

Un injerto que se difunde hacia atrás y transforma así el lugar de su separación.

La pérdida y el hallazgo generan una infinidad que es absolutamente inimitable.

No hay por qué entender el infinito comentario, que a cada instante se autoanula.

El truco consiste en no suprimir la alteridad de cada uno en la composición temporal.

Pero yo no sé cómo se hace.

Minimalismo. Luego, sólo quizás, haya un único peligro.

Dos hechos riman, y antes por separado no eran nada.

Jugar con los lenguajes es examinar las formas en que funciona la mente.

Hoy, quizás, tengamos suerte con este pastiche.

Combinan y modifican y añaden una conexión en el extenso plenum de la experiencia.

Por momentos, las combinatorias organizan flashes donde algunas imágenes se corporizan, y otras no.

Cada actema es cincelado por un actor/personaje; pulido. De una manera.

¿Quiere saber a qué me parezco?

Otro hará algo diferente, pero cincelado. Y lo pulirá. De una manera otra.

En su crisis, ese algo es impredecible; lo otro es menor.

La información, congelada en una imagen; y un enorme voltaje de faltante.

Una imagen dentro de una estructura que logra no querer decir nada.

Dice su sentido al reñirse con lo racional, con ese mágico poder que le da el hecho de no tener significado.

¿Qué se está contando?

La primera fase, de instalación, se sostiene hasta que la paulatina retroalimentación genera vida en el sistema, que empieza así a pensar por sí mismo.

¿Qué me importa? El motor está donde sucumben las explicaciones. A mí me importa el cómo; a lo otro no lo sé.

Los elementos tienen al menos doble funcionalidad, la información cubre el ciframiento, esconde el procedimiento.

Internos contratos de un mundo confabulados, sin fábula.

Un mundo que no es lineal, donde muchas causas esconden efectos desordenados.

Una segunda etapa, de modulación, una serie de formas de variar que rigen tanto como posibilitan, limitando tanto como permitiendo; sinapsis, puro estallido.

[...]


Sebastián Huber é dramaturgo, diretor e professor. Graduado em Teatro pela Universidad Nacional del Centro de la Provincia de Buenos Aires, realizou mestrado em Estudos Teatrais na Universidad Autónoma de Barcelona e residência artística na Université Sobonne Nouvelle. Espécie foi premiada pelo Fondo Nacional de las Artes do governo argentino. A peça será publicada no Brasil pela Editora Cousa, em tradução de Rafaela Scardino e com prefácio de Luciana Sastre.