Por Ana Rüsche.
Confesso. Quando recebi o convite para participar do blog da Confraria, não sei se foi a lista de participantes ou o espírito da proposta, mas aqueles anos tão-perto-tão-longes da década de 2000 vieram à tona... ah, aqueles blogs. Memórias.
Confesso. Quando recebi o convite para participar do blog da Confraria, não sei se foi a lista de participantes ou o espírito da proposta, mas aqueles anos tão-perto-tão-longes da década de 2000 vieram à tona... ah, aqueles blogs. Memórias.
Seria mais ou menos 2006. Os blogs, os blogues. Fervilhando.
Pululando. Quem escrevia tinha que ter um. Nem que fosse pra
nunca atualizar. Nem que fosse pra ser contra ter blog. Titã era quem escalasse o céu e publicasse três posts
na semana. Se fossem postagens com fotos, já tinha um camarote no
Olimpo. O blogspot. O zip.net.
Uns layouts prontos de três cores. Adaptar a imagem do cabeçalho era
pra hacker. Piadinhas bobas na hora de escolher a redação do campo
“deixe o seu comentário” (colocavam as coisas mais
absurdas).
Assim como o acadêmico que
dá aquela avaliada na tese pela bibliografia, vc
batia o olho no blogroll da pessoa e já sacava “fulano escreve assim”, aquela
deliciosa incontrolável facilidade de julgar a pessoa logo de cara. A etiqueta da
listinha de link (“se te linkei, tem que me likar”). A falta de etiqueta
(“vou linkar porra nenhuma, nem conheço o folgado”). As briguinhas
veladas. Os xavequinhos furados. Tudo acabava em risadas altas no bar,
onde mais? Essa linha tênue da conversação subterrânea, furtiva e
constante. A geração 00. A geração dos blogs. A geração zerada.
O
interessante é que hoje os blogues de literatura brasileira ainda
existem. Poucos sobreviveram com a mesma tenacidade e, sorte a nossa,
com o mesmo layout. Mas perderam lá sua importância, não perderam? De
alguma forma, a confusão generalizada mutiplatafórmide – é
passarinho azul, é o zuckerberg, é o uóts, até o linkedin – nos deixa um
pouco tontos mesmo... e o engraçado é que esses espaços, que eram
marcados pela fugacidade, hoje são os da permanência (quem diria!). Os
blogs agora são adultos de respeito. Mereceram teses, publicações. Vai
entender.
Queria agradecer a companhia.
Dedico a pequena crônica à Andréa Catrópa e ao Pedro Tostes.