17 de março de 2014

Ah, os blogs...

Por Ana Rüsche.

Confesso. Quando recebi o convite para participar do blog da Confraria, não sei se foi a lista de participantes ou o espírito da proposta, mas aqueles anos tão-perto-tão-longes da década de 2000 vieram à tona... ah, aqueles blogs. Memórias.

Seria mais ou menos 2006. Os blogs, os blogues. Fervilhando. Pululando. Quem escrevia tinha que ter um. Nem que fosse pra nunca atualizar. Nem que fosse pra ser contra ter blog. Titã era quem escalasse o céu e publicasse três posts na semana. Se fossem postagens com fotos, já tinha um camarote no Olimpo. O blogspot. O zip.net. Uns layouts prontos de três cores. Adaptar a imagem do cabeçalho era pra hacker. Piadinhas bobas na hora de escolher a redação do campo “deixe o seu comentário” (colocavam as coisas mais absurdas). 

Assim como o acadêmico que dá aquela avaliada na tese pela bibliografia, vc batia o olho no blogroll da pessoa e já sacava “fulano escreve assim”, aquela deliciosa incontrolável facilidade de julgar a pessoa logo de cara. A etiqueta da listinha de link (“se te linkei, tem que me likar”). A falta de etiqueta (“vou linkar porra nenhuma, nem conheço o folgado”). As briguinhas veladas. Os xavequinhos furados. Tudo acabava em risadas altas no bar, onde mais? Essa linha tênue da conversação subterrânea, furtiva e constante. A geração 00. A geração dos blogs. A geração zerada.


O interessante é que hoje os blogues de literatura brasileira ainda existem. Poucos sobreviveram com a mesma tenacidade e, sorte a nossa, com o mesmo layout. Mas perderam lá sua importância, não perderam? De alguma forma, a confusão generalizada mutiplatafórmide – é passarinho azul, é o zuckerberg, é o uóts, até o linkedin – nos deixa um pouco tontos mesmo... e o engraçado é que esses espaços, que eram marcados pela fugacidade,  hoje são os da permanência (quem diria!). Os blogs agora são adultos de respeito. Mereceram teses, publicações. Vai entender.

Tudo isso pra dizer que o convite pra escrever aqui veio em ótima hora.
Queria agradecer a companhia.

Dedico a pequena crônica à Andréa Catrópa e ao Pedro Tostes.