2 de junho de 2014

Sobre ' Os invisíveis no país da Copa' ou o ensaio infinito do fotógrafo Roberto do Nascimento


O que faz de alguém um fotógrafo é justamente a capacidade de transferir para a foto, não apenas o punctus barthesiano, também é uma transferência da sensibilidade do imanente, daquela parte da realidade que nós somos, a parte de nós que os poetas podem chamar de outridade, a dimensão humana da alteridade. Isto encontramos nas fotos de José Roberto do Nascimento, a ultraviolência da miséria devidamente registrada numa pulsação lírica, mais do que um recorte de viés sociológico, Roberto faz uma ampliação de um ponto molecular da barbárie e seu trabalho se coloca em oposição ao projeto de ocultamento e de construção da invisibilidade destes seres de dimensão mítica e atemporal, os moradores de rua vivem no atemporal e nós vivemos no cronológico, obviamente as leis do dinheiro operam por uma chave de falta, ausência e necessidade que só se move no cronológico, mas estes entes que vivem no mundo do fluxo constante de carros e humanos, parecem descolar do fluxo e se convertem em figuras recortadas do real coladas no irreal e tentando sem muita energia fazer parte dele .



José Roberto  neste ensaio capta uma certa esfera do entre onde estes  humanos nadificados se fixam. ' Os invisíveis no país da Copa'  é um ensaio que ganha o status da infinitude diante da falsa insolubilidade da questão que as imagens abordam.



 Estou preparando um projeto de exposição para estas fotos tão necessárias quanto uma manifestação silenciosa que fique parada diante do olhar indiferente dos poderosos, até que a própria energia da presença do silêncio converta a indignação em um espécie de  força  nuclear, não tenho nenhuma dúvida de que a barbárie da miséria  será mais devastadora do que podemos imaginar, é  para breve a  explosão atômica da miséria é o que parecem dizer estas fotos.

Marcelo Ariel