26 de junho de 2014

Fabulário Digital

Luiz Roberto Guedes



|fragmentos de um fakebook|


Durante um verão inteiro, ela cintilou como promessa, perspectiva de Pasárgada, portões de Constantinopla. Passado o carnaval, terminou só como uma lembrança desagradável.



Descasado e deprimido, ele saiu da rede social e retirou-se do mundo. Semanas depois, uma velha amiga, muito perceptiva, lhe perguntou se tinha visitado recentemente a página de sua ex. Não, não tinha. “Pois, olha” disse a dama, “do jeito que ela anda toda produzida, maquiada, penteada, bocão, sorrisão, está tendo um relacionamento sério... e não é com o vibrador”.



De repente, a sexy doll pulou nua da cama e disse: "Desculpe, mas sou conservadora. Fico te devendo essa". Num piscar de olhos, já estava vestida quando abriu a janela e se atirou no espaço. Ele seguiu o voo dela entre os prédios, impulsionada pelo vento, e aí acordou, um tanto assustado. Chegou até a abrir a janela para olhar a avenida vazia. Então riu daquele sonho idiota, porque nunca na vida lhe passou pela cabeça possuir uma boneca inflável. Ainda mais... falante.


Deitado no divã, ele formulou finalmente a questão para seu analista: “O problema, doutor, é que eu nunca ficaria com uma mulher que estivesse tão desesperada a ponto de aceitar um sujeito como eu”.


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