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CORRESPONDÊNCIAS
NA ILHA DE MOREL
Francine escreve a Morel:
e
fiquei. a esperar teus postais do sri lanka. me deitei no chão da cozinha e
fiquei. a escutar o motor da geladeira e o remelexo das escovas de dentes (você
não sabia, mas eu tenho várias. de mania, sei lá o porquê. como tantas coisas,
simplesmente é, sem que ter ou saber o porquê.), da merda da prednisolona que
me incha e o liquidificador de leites que não bebo e o álcool que não me move e
os porta-retratos de imagens que nada me dizem e a tinta lilás de dias mais
generosos. e a comida do gato. tudo motorizando.
e
em noites ainda mais quentes e úmidas eu me sentava lá em cima da tremitante-geladeira
de pernas abertas e as suas eram de pau. assim te cria, louca. louco. turbilhão
do motor-nos.
e
fiquei. a olhar pro telhado barato-lodoso feito nas coxas. umas grossas outras
nem isso. a fiação que me mete medo, elétrica que sou. chocada de teias de
aranhas que afasta visitas e teus postais que não me chegam do sri lanka.
você
queria minha calma. pronto, taê. me construiu pr’além platonismo. sou matéria
calma. MENTIRA, porra! eu continuo (n)a mesma. espalhada entre modernismos,
pensamentos complexos, marxismos, blues, choro, o empreguinho de vilanias e a
carne fremitante-tanto de te esperar.
eu
tentei te ligar. eu queria tão-desesperadamente falar com você que meus dedos
tremiam teus números. fumei os vinte cigarros com o telefone na boca. com os
dedos arrancados dentes. mas eu não sei nada dos teus números.
e
não tem esse negócio de mulherzinha-decadente, não. não tem nada de nada,
porque é um tudo indissociável. miscigenar calar correr deitar beber me jogar
ao mar. e começar tudo de novo os cabelos presos a tez branca a polidez o
amarelo riso. o infindo meio-ser. quiçá a meio-coisa
eu
iria ver as magrelas. e me inspirar nelas. você disse. disse que cuidaria
disso. de nos querer erguidos-juntos com toda fé em porra nenhuma. se abraçou
de vez às mulatas que não são hipotéticas. desencantou da minha falsa
branquidez patética. de novo. eu penso que elas são lindas. nossa cabeça é tão
cheia que não podemos simplesmente fazer caber as merdas da teletela. é muita
cultura pra dois serezinhos, macho. isso pode acabar com a gente. de broxa
mesmo. de distopia. então elas são lindas e há também as brancas e rijas e eu
até gozava de te ter assim livre, desde que você existisse em si de algum modo.
em si e não dos meus tijolos. de mim só a tua carne materialista.
mas
eu não vi nada disso. que teus postais não me chegaram do sri lanka. a minha
bagagem, imaterial, vazia. e fiquei.
Morel habla com Ella, Faustine:
Y
quedó.
Quedó
volviendo hacia sí con los dientes marcando sus labios y la sangre brotando del
bolsón de rabia que portaba a cuestas.
Bordeaba,
en la angosta ladera, un edificio gélido como el filo inaudible de los
cortantes acerados y quedó con el choque rebotando en los muros de cemento.
Devolvió
las miradas retrospectivas y los deseos envueltos en papel de regalo con
multicolores cintas mientras sentía una lluvia de latón cuadrándole la mirada.
Y
quedó.
Quedó
con su poliédrica visión.
Cuatro
o cinco puntas clavaron las ariscas posibilidades del encuentro marcándole las
imposibilidades nacidas de las tantas distancias, los pocos tiempos y las
solitarias pero multitudinarias diacronías subsiguientes.
Y
quedó.
Quedó
aunque cayera una tarde demasiado plomiza a sus espaldas y por delante
encontrara un reclamo…o quizás varios, para ser más exactos si es que sumamos
los propios sin contar los ajenos. Inesperados.
Eso:
quedó inesperado.
Se
sintió como una red que cazaba vida al enfrascar la salida de una pequeña
borboleta…bueno…. mariposa en su propio idioma, pero naturaleza alada al fin.
Y
quedó.
Quedó
como un carcelero.
Le
corrió el signo de una crueldad que no quería ni para sí, ni para la
desesperada sangre de la amada que corría a torrentes por los desbordados
pasillos de sus sienes.
Y
empezaron las preguntas.
Y
quedó…con las suyas y las otras.
La
mente cocinando, esperando tiempos dilatados, los posibles deseos….
postergados.
Y
quedó.
Ahora
ella quedó enfrascada aleteando sin percibir que, por arriba, estaba su salida.
No
vió el cielo azul que la coronaba ni se pudo quedar, inmóvil, sintiendo esa
brisa que susurraba lo que no fue dicho y que es lo que falta en esa terrible
noche de las esperas.
La
ganó su carne trepitante y se dejó llevar por la propia calentura.
Ella
dijo: ¡Porra! Eu continuo (n) a mesma espalhada entre modernismos, pensamentos
complexos, marxismos, blues, choro, o empreguinho de vilanias
No
puedo ver que no habría, nunca, postales de Sri Lanaka porque él estaba en
Hiroshima, mon amour, y en el preciso instante de caer la bomba.
Y
quedó.
Quedó
abombado.
Fueron
dos minutos o mejor digamos una eternidad el estruendo.
¿Qué
cosa fuera aquello que los salvaría?
Se
preguntó:
¿Qué
decir desde Sri Lanka, si ni tiempo le han dado a correr…a llegar hasta otro
espacio?
Y
quedó.
Quedó
esta vez repreguntando... se.
*Nina
Rizzi (SP, 1983), escritora historiadora e tradutora. Tem textos, traduções e
poemas em diversas antologias, revistas e suplementos; publicou tambores pra n'zinga (poesia; Orpheu,
2012), caderno-goiabada
(prosa-ensaística; Edições Ellenismos); Susana
Thénon: Habitante do Nada (tradução; Edições Ellenismos, 2013) e A Duração do Deserto (poesia; Patuá,
2014). Atualmente prepara duas publicações em tradução e um livro infantil.