a seguir
como se houvesse
sucessão
você abrirá os olhos
para mais um dia
como se dias existissem
você falará sobre o
frio
como se você sentisse
frio
você fará todas as
coisas que consistem em
comportar-se como você
mesmo
como se você mesmo
existisse
você fala
(vejo você sentado no
lugar de agir)
estamos à espera
virá o homem que leva
embora bibliotecas
não posso lavar os
livros, meu senhor
você fala
(duas vezes)
comece pela boca
destrua seus olhos
construa um novo olho
humano
cego para os espelhos
eficiente para os
piolhos
jogue seus braços fora
mas fique com as mãos
costure três membranas
longas
para flutuar
nas pontas das orelhas
no tronco atarraxe
vinte e cinco pernas
elásticas
para percorrer longas
distâncias
inaptas para efetuar
depósitos bancários
e pilotar escavadeiras
(esta ideia é boa
temos que inventá-la)
os grãos se acumularam
e as narrativas
desenharam círculos
maiores do que as
páginas
nenhuma linha remediou
a vida
você fala
(você pode falar
várias vezes a mesma
coisa)
você pensou a noite
toda um plano
para nunca mais fazer
planos
e acovardou-se até se
transformar no coadjuvante
o coadjuvante não pode
ir até a janela
subir no parapeito com
o cabelo esvoaçante e saltar
ou deixará de ser o
coadjuvante
agora vamos mascar
cacos de vidro
vamos engolir os
pedaços mais brilhantes do mundo
como naquele
documentário
da vidente que morreu
no corredor
do hospital miguel
couto
com uma infecção no
braço
à espera de
atendimento
sobreviver com menos do
que é possível
tudo o que fizemos aos
nossos santos
e o que eles farão por
nós
traga o fogo,
apagaremos nossas cidades
as crianças não fazem
promessas, ouço o bebê gritar
traga o mar, estamos de
partida
é perigoso dar as
costas para o céu
a guerra travada entre
as buzinas
(estou na janela do seu
apartamento)
foi descrita no último
livro
você congelou os
alimentos
seria preciso paralisar
a cena
alguém
ao lado de outro alguém
ao lado de outro alguém
ao lado de outro alguém
ninguém falou de amor
esta ideia veio depois
no banquete, ninguém
falou
você chocará um ovo
oco
você vai morrer de
medo do monstro
mandaram-me ir, eu me
vesti
mandaram-me ir, eu
empilhei caixas
mandaram-me ir, eu
falei
mas não estou bem
certo
se você não pode
jogar com os conceitos, finja poder
os urubus são os
peixes
os pobres são as
pedras
os papéis são as
pessoas
os doentes são os que
se levantaram
vá
o que eles darão em
troca?
alguma coisa que terá
sido transformada
em tempo
faça a conversão das
moedas
Francine Jallageas cansou de ter de inventar biografias a cada vez que uma poeirinha de cupim comedor de armário velho que ela escreveu vai parar na internet.