7 de agosto de 2015

Jurema Paes # Nome # Nume # Recado das Sertanias ou algumas reflexões sobre a foto de Evandro Teixeira e o figurino de Erika Ikezili





No primeiro momento o que vemos na foto é a evocação de uma imanência, de uma dimensão do imanente onde a figura se torna metáfora de uma  expansão até  centros de sinergia que  operam uma osmose  com o Nume evocado pelos cactos, falo em Nume e recordo de uma passagem bíblica do Evangelho Segundo S. Marcos : "8. 24 E, levantando ele os olhos, disse: Vejo os homens; pois os vejo como árvores que andam." . O imaginário que se comunica silenciosamente com a intuição daimônica me permite também expandir esta frase para um campo diferente do campo unificador do Evangelho,  onde   " vejo a figura humana como um poema que se desloca " , no caso para estes cactus, O Sertão é um topos genesíaco por excelência, o que é comunicado pelo pensamento esboçado também em seu curso e força de silêncio no olhar de Jurema Paes.  O figurino sinérgico de Erika dialoga com as taras tibetanas, outras figuras do Nume presentes , uma cisão Ocidente/oriente é  minuciosamente costurada aqui, no corpo de Jurema, a metáfora mais explicita aqui é de uma mestiçagem entre a orquídea e o girassol, duas flores que se conectam ao lugar interior /exterior chamado Sertão. A sabedoria do fotógrafo está a meu ver no deslocamento de um dentro para um fora múltiplo,  a profunda inteligência da figurinista , profunda no sentido da intuição foi criar um ponto de convergência e emponderamento do corpo como signo da diferença, mas de uma diferença dialógica. O gesto de Jurema e aqui entra o papel do fotógrafo como enunciador de uma demiúrgia, é um gesto muito comum nas figuras de epopeia e nas artes marciais,  no wu shu, estilo de tai-chi , é um gesto de preparação para a chegada da energia,  que se dá dentro do wu wei, dentro do vazio, que é como todos sabem a condição ôntica do início de algo, de uma coisa, de mundos, o vazio é a força  que chama , evoca para a criação,  esta foto acontece no limiar , na fronteira geontologica entre o vazio criador e a iminência de algo que ainda não manifestou plenamente os sinais nítidos que nos possibilitariam discernir o que é que está vindo, não se trata porém de um espera pela energia messiânica,  base da falida constituição do mundo como polaridade ocidental/oriental ou seja em nossa limitada visão dicotômica, mas certamente é o anuncio sutilíssimo de uma energia que vem do âmago da terra, como um recado do Nume para o Nome.

Marcelo Ariel